segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Guerra de Canudos


Quer saber mais sobre a Guerra de Canudos?


A chamada Guerra de Canudosrevolução de Canudos ou insurreição de Canudos, foi o confronto entre um movimento popular de fundo sócio-religioso e o Exército da República, que durou de 1896 a 1897, na então comunidade de Canudos, no interior do estado da Bahia, no Brasil.

O episódio foi fruto de uma série de fatores como a grave crise econômica e social em que encontrava a região à época, historicamente caracterizada pela presença de latifúndios improdutivos, situação essa agravada pela ocorrência de secas cíclicas, de desemprego crônico; pela crença numa salvação milagrosa que pouparia os humildes habitantes do sertão dos flagelos do clima e da exclusão econômica e social.

Inicialmente, em Canudos, os sertanejos não contestavam o regime republicano recém-adotado no país; houve apenas mobilizações esporádicas contra a municipalização da cobrança de impostos. A imprensa, o clero e os latifundiários da região incomodaram-se com uma nova cidade independente e com a constante migração de pessoas e valores para aquele novo local passaram a acusá-los disso, ganhando, desse modo, o apoio da opinião pública do país para justificar a guerra movida contra o arraial de Canudos e os seus habitantes.

Aos poucos, construiu-se em torno de Antônio Conselheiro e seus adeptos uma imagem equivocada de que todos eram "perigosos monarquistas" a serviço de potências estrangeiras, querendo restaurar no país o regime imperial, devido, entre outros ao fato de o Exército Brasileiro sair derrotado em três expedições, incluindo uma comandada pelo Coronel Antônio Moreira César, também conhecido como "corta-cabeças" pela fama de ter mandado executar mais de cem pessoas na repressão à Revolução Federalista em Santa Catarina, expedição que contou com mais de mil homens. A derrota das tropas do Exército nas primeiras expedições contra o povoado apavorou o país, e deu legitimidade para a perpetração deste massacre que culminou com a morte de mais de seis mil sertanejos. Todas as casas foram queimadas e destruídas.

Canudos era uma pequena aldeia que surgiu durante o século 18 às margens do rio Vaza-Barris. Com a chegada de Antônio Conselheiro em 1893 passou a crescer vertiginosamente, em poucos anos chegando a contar por volta de 25 000 habitantes. Antônio Conselheiro rebatizou o local de Belo Monte, apesar de estar situado num vale, entre colinas.

A situação na região, à época, era muito precária devido às secas, à fome, à pobreza e à violência social. Esse quadro, somado à elevada religiosidade dos sertanejos, deflagrou uma série de distúrbios sociais, os quais, diante da incapacidade dos poderes constituídos em debelá-los, conduziram a um conflito de maiores proporções.


Povoação de Canudos, Bahia, Brasil.

A figura de Antônio Conselheiro

Antônio Vicente Mendes Maciel, apelidado de "Antônio Conselheiro", nascido em Quixeramobim (CE) a 13 de março de 1830, de tradicional família que vivia nos sertões entre Quixeramobim e Boa Viagem, fora comerciante, professor e advogado prático nos sertões de Ipu e Sobral. Após a sua esposa tê-lo abandonado em favor de um sargento da força pública, passou a vagar pelos sertões em uma andança de vinte e cinco anos. Chegou a Canudos em 1893, tornando-se líder do arraial e atraindo milhares de pessoas. Acreditava que era um enviado de Deus para acabar com as diferenças sociais e com a cobrança de tributos. Acreditava ainda que a "República" (então recém-implantada no país) era a materialização do reino do "Anti-Cristo" na Terra, uma vez que o governo laico seria uma profanação da autoridade da Igreja Católica para legitimar os governantes. A cobrança de impostos efetuada de forma violenta, a celebração do casamento civil, a separação entre Igreja e Estado eram provas cabais da proximidade do "fim do mundo".

A escravidão havia acabado poucos anos antes no país, e pelas estradas e sertões, grupos de ex-escravos vagavam, excluídos do acesso à terra e com reduzidas oportunidades de trabalho. Assim como os caboclos sertanejos, essa gente paupérrima agrupou-se em torno do discurso do peregrino "Bom Jesus" (outro apelido de Conselheiro), que sobrevivia de esmolas, e viajava pelo Sertão.
O governo da República, recém-instalado, queria dinheiro para materializar seus planos, e só se fazia presente pela cobrança de impostos. Para Conselheiro e para a maioria das pessoas que viviam nesta área, o mundo estava próximo do fim. Com estas idéias em mente, Conselheiro reunia em torno de si um grande número de seguidores que acreditavam que ele realmente poderia libertá-los da situação de extrema pobreza ou garantir-lhes a salvação eterna na outra vida.

Campanha militar

A primeira reação oficial do governo da Bahia deu-se em outubro de 1896, quando as autoridades de Juazeiro apelaram para o governo estadual baiano em busca de uma solução. Este, em novembro, mandou contra o arraial um destacamento policial de cem praças, sob o comando do tenente Manuel da Silva Pires Ferreira. Os conselheiristas, vindo ao encontro dos atacantes, surpreenderam a tropa em Uauá, em 21 de novembro, obrigando-a a se retirar com vários mortos. Enquanto aguardavam uma nova investida do governo, os jagunços fortificavam os acessos ao arraial.

Comandada pelo major Febrônio de Brito, em janeiro de 1897, depois de atravessar a serra de Cambaio, uma segunda expedição militar contra Canudos foi atacada no dia 18 e repelida com pesadas baixas pelos jagunços, que se abasteciam com as armas abandonadas ou tomadas à tropa. Os sertanejos mostravam grande coragem e habilidade militar, enquanto Antônio Conselheiro ocupava-se da esfera civil e religiosa.

Na capital do país, o governo federal ante este fato e a pressão de políticos florianistas que viam em Canudos um perigoso foco monarquista, assumiu a repressão, preparando a primeira expedição regular, cujo comando confiou ao coronel Antônio Moreira César. A notícia da chegada de tropas militares à região atraiu para lá grande número de pessoas, que partiam de várias áreas do Nordeste e iam em defesa do "homem Santo". Em 2 de março, depois de ter sofrido pesadas baixas, causadas pela guerra de guerrilhas na travessia das serras, a força, que inicialmente se compunha de 1.300 homens, assaltou o arraial. Moreira César foi mortalmente ferido e passou o comando para o coronel Pedro Nunes Batista Ferreira Tamarindo. Abalada, a expedição foi obrigada a retroceder. Entre os chefes militares sertanejos destacaram-se Pajeú, Pedrão, que depois comandou os conselheiristas na travessia de Cocorobó, Joaquim Macambira e João Abade, braço direito de Antônio Conselheiro, que comandou os jagunços em Uauá.

No Rio de Janeiro, a repercussão da derrota foi enorme, principalmente porque se atribuía ao Conselheiro a intenção de restaurar a monarquia. Jornais monarquistas foram empastelados e Gentil José de Castro, gerente de dois deles, assassinado. Em abril de 1897 então, providenciou-se a quarta e última expedição, sob o comando do general Artur Oscar de Andrade Guimarães, composta de duas colunas, comandadas pelos generais João da Silva Barbosa e Cláudio do Amaral Savaget, ambas com mais de quatro mil soldados equipados com as mais modernas armas da época. No decorrer da luta, o próprio ministro da Guerra, marechal Carlos Machado Bittencourt, seguiu para o sertão baiano e se instalou em Monte Santo, base das operações.

O primeiro combate verificou-se em Cocorobó, em 25 de junho, com a coluna Savaget. No dia 27, depois de sofrerem perdas consideráveis, os atacantes chegaram a Canudos. Após várias batalhas, a tropa conseguiu dominar os jagunços, apertando o cerco sobre o arraial. Depois da morte de Conselheiro (supõe-se que em decorrência da desinteria), em 22 de setembro, parte da população de mulheres, crianças e idosos foi colocada à disposição das tropas federais, enquanto um último reduto resistia na praça central do povoado.

Em tal momento de rendição, há relatos de que foi instituída, suspeitadamente por oficiais de baixa patente do exército, o que se denominou de pena da "gravata vermelha" - execução sumária de prisioneiros já subjugados, que eram posicionados de joelhos e degolados. Estima-se que parte da população civil rendida, que ainda não havia sido dizimada pela fome e pelas doenças no arraial, e não somente os prisioneiros combatentes, tenha sido executada dessa forma por tropas federais, o que constituiu num dos maiores crimes já praticados em território brasileiro.

O arraial resistiu até 5 de outubro de 1897, quando morreram os quatro derradeiros defensores. O cadáver de Antônio Conselheiro foi exumado e sua cabeça decepada a faca. No dia 6, quando o arraial foi arrasado e incendiado, o Exército registrou ter contado 5.200 casebres.

Consequências da Guerra dos Canudos


Antônio Conselheiro morto, em sua única foto conhecida.

O conflito de Canudos mobilizou aproximadamente doze mil soldados oriundos de dezessete estados brasileiros, distribuídos em quatro expedições militares. Em 1897, na quarta incursão, os militares incendiaram o arraial, mataram grande parte da população e degolaram centenas de prisioneiros. Estima-se que morreram ao todo por volta de 25 mil pessoas, culminando com a destruição total da povoação.

População sobrevivente do conflito em Canudos

Dica de filme e livro:  A Guerra de Canudos foi imortalizada por Euclides da Cunha na sua obra Os Sertões, publicada em 1902, e que inspirou Mario Vargas Llosa a escrever seu romance "A Guerra do Fim do Mundo", 1980. Além disso, a guerra inspirou muitos filmes, entre eles o de longa-metragem Guerra de Canudos, de Sérgio Rezende, 1997.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Escravidão

O que você conhece da história negra no Brasil?

A escravidão também chamada de escravismo, escravagismo e escravatura é a prática social em que um ser humano adquire direitos de propriedade sobre outro denominado por escravo, ao qual é imposta tal condição por meio da força. Em algumas sociedades, desde os tempos mais distantes, os escravos eram legitimamente definidos como um produto. Os preços modificavam-se conforme as condições físicas, habilidades profissionais, sexo, a idade, a procedência e o destino.

Quando falamos em escravidão, é difícil não pensarmos nos europeus que superlotavam os porões de seus navios de homens trazidos da África independente de suas vontades e que foram colocados à venda de forma desumana e cruel por toda a América.

Entretanto, a escravidão é bem mais antiga do que o tráfico do povo africano. Ela é tão antiga quanto à própria história, quando os povos derrotados em batalhas eram escravizados por seus conquistadores. Neste caso, citamos como exemplo os hebreus, que foram vendidos como escravos desde o começo da História.   

Muitas das antigas civilizações empregavam e necessitavam do trabalho escravo para a execução de tarefas mais pesadas e rudimentares. Roma e Grécia são exemplos, estas possuíam  um grande número de escravos; no entanto, a maioria  de seus escravos eram bem tratados e tiveram a oportunidade de comprar sua liberdade.  

A escravidão no Brasil

No Brasil, a escravidão teve seu início a partir da  produção de açúcar na primeira metade do século XVI. Os portugueses traziam os escravos de suas colônias na  África para utilizar como mão-de-obra escrava nos engenhos de açúcar da região nordeste do Brasil. Os escravos aqui no Brasil eram vendidos como se fossem mercadorias pelos comerciantes de escravos portugueses. Os mais saudáveis chegavam a valer o dobro daqueles mais fracos ou velhos.
O transporte destes escravos era feito da África para o Brasil nos porões de navios negreiros. Os escravos vinham amontoados, em condições desumanas, muitos morriam antes de chegar ao Brasil, e seus corpos eram deixados no mar.
Quando chegavam às fazendas de açúcar ou nas minas de ouro (a partir do século XVIII), os escravos eram tratados da pior maneira possível. Trabalhavam excessivamente (de sol a sol), recebiam uma alimentação precária e suas roupas eram trapos. A noite recolhiam-se nas senzalas (galpões escuros, úmidos e com pouca higiene) e eram acorrentados para evitar fugas. Constantemente eram castigados fisicamente, sendo que o açoite era a punição mais comum no período do Brasil colonial.
Os escravos eram proibidos de praticarem a sua religião de origem africana ou de realizar suas festas e rituais africanos. Eram obrigados a seguir a religião católica, imposta pelos senhores de engenho, e também era exigido adotar a língua portuguesa na sua comunicação. Porém mesmo com todas as imposições e restrições, não deixaram a cultura africana se extinguir. Escondidos, realizavam seus rituais, praticavam suas festas, conservaram suas representações artísticas e desenvolveram uma uma arte marcial disfarçada de dança, a Capoeira.
As mulheres negras também sofreram muito com a escravidão no Brasil, ainda que os senhores de engenho utilizassem esta mão-de-obra, principalmente, para trabalhos domésticos. Cozinheiras, arrumadeiras e até mesmo amas de leite foram comuns naqueles tempos da colônia.
No período conhecido como o Século do Ouro (XVIII) alguns escravos conseguiam comprar sua liberdade após adquirirem a carta de alforria. Juntando alguns "trocados" durante toda a vida, conseguiam a liberdade. Entretanto, as poucas oportunidades e o preconceito da sociedade acabavam fechando as portas para estas pessoas.
O negro, porém reagiu à escravidão, buscando uma vida digna. Neste período eram comuns as revoltas nas fazendas em que grupos de escravos fugiam, formando nas florestas os quilombos. Estes quilombos eram comunidades organizadas, onde os integrantes viviam em liberdade, através de uma organização comunitária aos moldes do que existia na África. Nos quilombos, os negros africanos podiam praticar sua cultura, falar sua língua e exercer seus rituais religiosos. O mais famoso foi o Quilombo de Palmares, comandado por Zumbi.


Zumbi dos Palmares: líder do Quilombo dos Palmares

História dos quilombos

No período de escravidão no Brasil (séculos XVII e XVIII), os negros que conseguiam fugir se refugiavam com outros em igual situação em locais bem escondidos e fortificados no meio das matas. Estes locais eram conhecidos como quilombos. Nestas comunidades, eles viviam de acordo com sua cultura africana, plantando e produzindo em comunidade. Na época colonial, o Brasil chegou a ter centenas destas comunidades espalhadas, principalmente, pelos atuais estados da Bahia, Pernambuco, Goiás, Mato Grosso, Minas Gerais e Alagoas.


Na ocasião em que Pernambuco foi invadida pelos holandeses (1630), muitos dos senhores de engenho acabaram por abandonar suas terras. Este fato beneficiou a fuga de um grande número de escravos. Estes, após fugirem, buscaram abrigo no Quilombo dos Palmares, localizado em Alagoas.
Esse fato propiciou o crescimento do Quilombo dos Palmares. No ano de 1670, este já abrigava em torno de 50 mil escravos. Estes, também conhecidos como quilombolas, costumavam pegar alimentos às escondidas das plantações e dos engenhos existentes em regiões próximas; situação que incomodava os habitantes.
Esta situação fez com que os quilombolas fossem combatidos tanto pelos holandeses (primeiros a combatê-los) quanto pelo governo de Pernambuco, sendo que este último contou com os ser­viços do bandeirante Domingos Jorge Velho.


            A luta contra os negros de Palmares durou por volta de cinco anos; contudo, apesar de todo o empenho e determinação dos negros chefiados por Zumbi, eles, por fim, foram derrotados.


Zumbi dos Palmares: líder do Quilombo dos Palmares

Os quilombos representaram uma das formas de resistência e combate à escravidão. Rejeitando a cruel forma de vida, os negros buscavam a liberdade e uma vida com dignidade, resgatando a cultura e a forma de viver que deixaram na África e contribuindo para a formação da cultura afro-brasileira.

A Campanha Abolicionista e a Abolição da Escravatura

A partir da metade do século XIX a escravidão no Brasil passou a ser rechaçada pela Inglaterra. Com o objetivo de ampliar seu mercado consumidor no Brasil e no mundo, o Parlamento Inglês aprovou a Lei Bill Aberdeen (1845), que proibia o tráfico de escravos, conferindo poder aos ingleses de abordarem e aprisionarem navios de países que faziam esta prática.
O Brasil, em 1850 cedendo às pressões inglesas e aprovou a Lei Eusébio de Queiróz que acabou com o tráfico negreiro. Em 28 de setembro de 1871 era sancionada  a Lei do Ventre Livre que concedia a liberdade aos filhos de escravos nascidos a partir daquela data. E no ano de 1885 era promulgada a Lei dos Sexagenários que garantia a liberdade aos escravos com mais de 60 anos de idade.
Apenas no final do século XIX é que a escravidão tornou-se proibida mundialmente. No Brasil, a abolição ocorreu em 13 de maio de 1888 com a publicação da Lei Áurea, feita pela Princesa Isabel.  

Princesa Isabel: símbolo da redenção do cativeiro

Dia da Consciência Negra – 20 de Novembro



Vinte de novembro é o Dia Nacional da Consciência Negra. A data - transformada em Dia Nacional da Consciência Negra pelo Movimento Negro Unificado em 1978 - não foi escolhida ao acaso, e sim como homenagem a Zumbi, líder máximo do Quilombo de Palmares e símbolo da resistência negra, assassinado em 20 de novembro de 1695.
Esta data está regulamentada pela Lei 10.639, de 9 de janeiro de 2003, que incluiu o dia 20 de novembro no calendário escolar, data em que comemoramos o Dia Nacional da Consciência Negra. A mesma lei também tornou obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira. Nas escolas as aulas sobre os temas: História da África e dos africanos, luta dos negros no Brasil, cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, propiciarão o resgate das contribuições dos povos negros nas áreas social, econômica e política ao longo da história do país.
Comemorar o Dia Nacional da Consciência Negra nessa data é uma forma de homenagear e manter viva em nossa memória essa figura histórica. Não somente a imagem do líder, como também sua importância na luta pela libertação dos escravos, concretizada em 1888.

Mapas Antigos

Mapa - Múndi


quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Conheça uma das nossas grandes guerras

Guerra do Paraguai

A Guerra do Paraguai foi o maior conflito armado internacional ocorrido na América do Sul no século 19. Rivalidades platinas e a formação de Estados nacionais deflagraram o confronto, que destruiu a economia e a população paraguaias.
É também chamada Guerra da Tríplice Aliança (Guerra de la Triple Alianza) na Argentina e Uruguai e de Guerra Grande, no Paraguai.


A Batalha do Riachuelo, um dos mais sangrentos episódios da Guerra do Paraguai.- óleo de Vítor Meireles

A Guerra do Paraguai durou seis anos. Teve seu início  em dezembro de 1864 e só chegou ao fim no ano de 1870, com a morte de Francisco Solano Lopes em Cerro Cora. 
Francisco Solano López, ditador do Paraguai.

Causas

Desde sua independência, os governantes paraguaios afastaram o país dos conflitos armados na região Platina. A política isolacionista paraguaia, porém, chegou ao fim com o governo do ditador Francisco Solano López.
Em 1864, o Brasil estava envolvido num conflito armado com o Uruguai. Havia organizado tropas, invadido e deposto o governo uruguaio do ditador Aguirre, que era líder do Partido Blanco e aliado de Solano López. O ditador paraguaio se opôs à invasão brasileira do Uruguai, porque contrariava seus interesses.
Como retaliação, o governo paraguaio aprisionou no porto de Assunção o navio brasileiro Marquês de Olinda, e em seguida atacou a cidade de Dourados, em Mato Grosso. Foi o estopim da guerra. Em maio de 1865, o Paraguai também fez várias incursões armadas em território argentino, com objetivo de conquistar o Rio Grande do Sul. Contra as pretensões do governo paraguaio, o Brasil, a Argentina e o Uruguai reagiram, firmando o acordo militar chamado de Tríplice Aliança.









     Antes da guerra, o Paraguai era uma potência econômica na América do Sul. Além disso, era um país independente das nações européias. Para a Inglaterra, um exemplo que não deveria ser seguido pelos demais países latino-americanos, que eram totalmente dependentes do império inglês. Foi por isso, que os ingleses ficaram ao lado dos países da tríplice aliança, emprestando dinheiro e oferecendo apoio militar. Era interessante para a Inglaterra enfraquecer e eliminar um exemplo de sucesso e independência na América Latina. Após este conflito, o Paraguai nunca mais voltou a ser um país com um bom índice de desenvolvimento econômico, pelo contrário, passa atualmente por dificuldades políticas e econômicas.

As batalhas da Guerra do Paraguai

A guerra do Paraguai durou seis anos, período durante o qual travaram-se várias batalhas. As forças militares brasileiras, chefiadas pelo Almirante Barroso, venceram a batalha do Riachuelo, libertando o Rio Grande do Sul. Em maio de 1866, ocorreu a batalha de Tuiuti, que deixou um saldo de 10 mil mortos, com nova vitória das tropas brasileiras.
Em setembro, porém, os paraguaios derrotam as tropas brasileiras na batalha de Curupaiti. Desentendimentos entre os comandantes militares argentinos e brasileiros levaram o imperador Dom Pedro II a nomear Luís Alves de Lima e Silva, o duque de Caxias, para o comando geral das tropas brasileiras. Ainda assim, em 1867, a Argentina e o Uruguai se retiram da guerra. Ao lado de Caxias, outro militar brasileiro que se destacou na campanha do Paraguai foi o general Manuel Luís Osório.
Sob o comando supremo de Caxias, o exército brasileiro foi reorganizado, inclusive com a obtenção de armamentos e suprimentos, o que aumentou a eficiência das operações militares. Fortalecido e sob inteiro comando de Caxias, as tropas brasileiras venceram sucessivas batalhas, decisivas para a derrota do Paraguai. Destacam-se as de Humaitá, Itororó, Avaí, Angostura e Lomas Valentinas.

 

Vitória brasileira

No início de 1869, o exército brasileiro tomou Assunção, capital do Paraguai. A guerra chegou ao fim em março 1870, com a Campanha das Cordilheiras. Foi travada a batalha de Cerro Corá, ocasião em que o ditador Solano López foi perseguido e morto.
Vale lembrar que, a essa altura, Caxias considerava a continuidade da ofensiva brasileira uma carnificina e demitiu-se do comando do exército, que passou ao conde d'Eu, marido da princesa Isabel. A ele coube conduzir as últimas operações.

 

Conseqüências da guerra

Para o Paraguai, a derrota na guerra foi desastrosa. O conflito havia levado à morte cerca de 80% da população do país, na sua maioria homens. A indústria nascente foi arrasada e, com isso, o país voltou a dedicar-se quase que exclusivamente à produção agrícola.
A guerra também gerou um custoso endividamento do Paraguai com o Brasil. Essa dívida foi perdoada por Getúlio Vargas, quase meio século depois. Mas os encargos da guerra e as necessidades de recursos financeiros levaram o país à dependência de capitais estrangeiros.
A Guerra do Paraguai também afetou o Brasil. Economicamente, o conflito gerou muitos encargos e dívidas que só puderam ser sanados com empréstimos estrangeiros, o que fez aumentar nossa dependência em relação às grandes potências da época (principalmente a Inglaterra) e a dívida externa. Não obstante, o conflito armado provocou a modernização e o fortalecimento institucional do Exército brasileiro.
Com a maioria de seus oficiais comandantes provenientes da classe média urbana, e seus soldados recrutados entre a população pobre e os escravos, o exército brasileiro tornou-se uma força política importante, apoiando os movimentos republicanos e abolicionistas que levaram ao fim do regime monárquico no Brasil.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Império

cont. História do Brasil - Boris Fausto

Houve mesmo uma Independência do Brasil?

     Quando a gente fala da Independência do Brasil, surge logo essa questão importante: afinal de contas, será que o Brasil não trocou simplesmente de dono? Antes era Portugal, depois de 1822 passou a ser a Inglaterra. De fato, a Independência e a abertura dos portos, antes dela, são fatos que favoreceram imensamente a Inglaterra, a grande potência européia da época; mas isso não significa que tenha havido uma simples troca de dono. A Independência obrigou à constituição de um Estado brasileiro, com seus órgãos de representação, com seus poderes, suas relações com o mundo externo. Embora seja verdade que a Inglaterra ganhou ainda mais influência, não é menos verdade que o significado do Brasil independente ia além da relação com a Inglaterra, ou com Portugal. Mas a Independência não saiu de graça: o país foi obrigado a pagar uma indenização a Portugal para garantir seu reconhecimento pelas potências européias e, para tanto, recorreu a um crédito aberto na Inglaterra. Outro ponto importante é que, em comparação com as repúblicas sul-americanas, a Independência brasileira se deu de forma até certo ponto pacífica, embora tenha havido luta principalmente na Bahia.

Qual a diferença entre a Independência do Brasil e das ex-colônias espanholas?

     O fato é que, enquanto a ex-colônia portuguesa se manteve unida, as antigas colônias espanholas da América do Sul se dividiram em vários países. Não existe uma explicação fácil para isso. O que se pensa, em geral, é que a elite brasileira, principalmente os presidentes de província, circulava por todas as regiões. Em outras palavras, existia no Brasil um esboço de direção burocrática que ajudou a manter unido o país. Ao mesmo tempo, um interesse muito forte estava por trás da manutenção da unidade, pelo menos em relação às principais províncias – esse interesse era a escravidão. Para manter e garantir os negócios da escravidão era importante que o país ficasse unido. Mas não foram poucos os problemas, as revoluções, entre a Independência e o ano de 1848, quando ocorreu em Pernambuco a Revolução Praieira.

Por que se fez aqui uma monarquia, entre repúblicas?


     Isso tem muito a ver exatamente com a força da monarquia, ligada à vinda de Dom João VI, quando a Colônia de certa forma se transformou em metrópole. Isso solidificou a idéia de manutenção da monarquia; e a passagem da situação colonial à de independência se fez pelas mãos de um príncipe português, que foi Pedro I.

Quais eram as características da monarquia brasileira?

     Ela não era igual às grandes monarquias européias, pois não houve uma aristocracia de sangue. Quer dizer, não havia uma nobreza com títulos e privilégios transmitidos por herança. Os títulos se esgotavam com a morte do titular, fosse ele barão, conde etc. Esses títulos eram um instrumento político muito importante: ao concedê-los, o imperador conferia prestígio e formava um circulo de fiéis.

Como ficou o Brasil, com a Independência?

     Logo depois da Independência se elegeu a Assembléia Constituinte, que começou a preparar a constituição. Mas foi grande a desavença entre Dom Pedro I e os membros eleitos da Assembléia, o que resultou em sua dissolução por parte do imperador; ele próprio assumiu a incumbência de dar ao Brasil uma constituição. A primeira Constituição brasileira nasceu de forma autoritária, imposta pelo monarca à sociedade. De cima para baixo.

Que pontos se destacavam na Constituição imperial de 1824?

     Ela deu ao imperador muitos poderes, entre os quais o mais importante talvez tenha sido o chamado poder moderador. Esse poder lhe permitia, por exemplo, nomear senadores vitalícios: recebia uma lista de três nomes e escolhia de acordo com sua vontade. Também lhe dava a possibilidade de dissolver a Câmara. Outro ponto importante da Constituição era a organização do sistema eleitoral, censitário e indireto. Censitário significa que as pessoas, para poder votar, deveriam ter um determinado nível de renda. Além disso, o voto era indireto, ao contrário do que acontece hoje. Os brasileiros votavam em um grupo de cidadãos com determinadas qualificações, e estas pessoas elegiam a Câmara dos Deputados. Naturalmente, ninguém elegia o imperador, que permanecia no poder até a morte. Outro traço do sistema eleitoral era o fato de os analfabetos poderem votar. Não se trata propriamente de espírito democrático, mas o número de analfabetos era tão grande que, se eles não votassem, o processo eleitoral na prática seria insignificante. Em grandes linhas, essa legislação eleitoral vigorou até 1881, quando ocorreu uma mudança importante. A chamada Lei Saraiva introduziu a eleição direta e, ao mesmo tempo acabou com o voto analfabeto.

Que fatos marcaram o Brasil Império?

     Do ponto de vista político, houve no Brasil Império três períodos: o Primeiro Reinado, com Dom Pedro I como imperador, até 1831; o período da Regência, até 1840; e o Segundo Reinado, com Dom Pedro II, até a proclamação da República, em 1889. O primeiro período foi marcado por duas disputas entre brasileiros e portugueses em torno do controle do país. Em razão dessa disputa, e também tendo em vista seus interesses na sucessão do trono de Portugal, Dom Pedro I acabou abdicando e voltando para a Europa, em 1831. Os portugueses ainda viam o Brasil como uma espécie de colônia. Por exemplo, os postos mais importantes do Exército brasileiro eram ocupados por oficiais portugueses.

Como se formou o Exército brasileiro?

     A história da formação do Exército no Brasil independente é longa. Nos primeiros tempos, os oficiais portugueses ocupavam os postos mais altos e, na base, havia uma massa de gente recrutada à força, ou que ia para o Exército só para ter o que comer. A monarquia valeu-se também de mercenários, contratando na Europa pessoas pobres que, muitas vezes, vinham para o Brasil pensando que iam ganhar terás e na realidade eram enquadradas no Exército.

E quanto à Regência?

     Na Regência, o Brasil foi governado por pessoas da elite, enquanto esperava a maioridade de Dom Pedro II, que acabou assumindo o trono com apenas 14 anos. Uma das coisas importantes da Regência foi a tentativa de descentralizar o poder. Os regentes procuraram dar mais força às províncias, diminuindo a dominação do poder central; queriam atender principalmente aos interesses das grandes províncias – Rio de Janeiro, São Paulo, que começava a crescer, Minas, Bahia, Pernambuco e poucas mais. Entre medidas tomadas para isso, suspenderam o poder moderador – ninguém mais podia dissolver a Câmara. Também suprimiram um órgão que existia no Primeiro Reinado, o Conselho de Estado, uma assembléia de gente idosa para a época, pois era preciso ter mais de 40 anos. Na linha da descentralização, foi criado logo no começo da Regência um corpo militar, a Guarda Nacional. Pelo menos no papel, ela seria formada por todos os cidadãos das províncias, que teriam por obrigação possuir armas e seriam convocados em caso de revoluções, ou de ameaças às fronteiras.

Que tipo de revolução ocorria?

     Desde a Independência, até mais ou menos 1848, houve no Brasil uma série de revoluções contra o governo central. Eram movimentos muito diferentes entre si e geograficamente distantes. Por exemplo, a Cabanagem ocorreu no Pará; a Farroupilha, no Rio Grande do Sul. Os integrantes dessas revoluções também não tinham características semelhantes. A revolução no Pará mobilizou principalmente uma grande massa de índios e descendentes de índios. Já na revolução Farroupilha os revolucionários eram brancos e os líderes eram sobretudo pessoas da elite. As reivindicações até certo ponto variavam, mas tinham em comum a forte oposição do governo central. Em alguns casos também se colocou em questão a natureza do regime, propondo derrubar a monarquia e instalar um governo republicano. Os revolucionários gaúchos criaram a República de Piratini, de curta duração. Em Pernambuco a revolta teve continuidade; a província já se insurgia contra os portugueses em 1817, voltou a se rebelar no Brasil independente, com a Confederação do Equador, e prossegue nesse clima de fermentação revolucionária até 1848, quando praticamente se encerra o ciclo de revoluções.

Como terminaram as Regências?

     A Regência terminou principalmente por pressão das elites das grandes províncias, que perceberam a necessidade de um comando centralizado. Em conseqüência, foi decretada antecipadamente a maioridade de Dom Pedro II, e iniciou-se assim o Segundo Reinado.


Quais os fatos mais importantes do Segundo Reinado?


     O longo Segundo Reinado foi o período mais importante do Brasil no século XIX. Até então, não se pode dizer que houvesse um sistema político bem definido. No tempo de Dom Pedro I houve o "partido brasileiro" e o "partido português", que não eram bem partidos, mas sim correntes de opinião. Nos primeiros anos do Segundo Reinado foram restaurados o poder moderador e o Conselho de Estado e se transformaram os dois primeiros grandes partidos brasileiros, o Partido Conservador e o Partido Liberal.


O que caracterizava os dois grandes partidos brasileiros?


     É comum se dizer que representavam a mesma coisa. Isso só é verdade em parte, pois se eles de fato representassem a mesma coisa, por que disputariam por tantos anos o poder e se dividiram tanto? O Partido Conservador era formado pela burocracia imperial, por altos funcionários da Corte, que se aliviavam aos grandes produtores de café da província do Rio de Janeiro. Os conservadores contavam também com apoio principalmente na Bahia, e também em Pernambuco. O Partido Liberal representava os interesses de São Paulo, Rio Grande do Sul e parte de Minas Gerais. Durante certo tempo, os liberais foram favoráveis a descentralização do poder, enquanto os conservadores reforçavam a Corte e sustentavam a centralização do poder nas mãos do imperador.




O que foi mais relevante no reinado de Pedro II?


     No plano da política externa, houve a Guerra do Paraguai, conflito em que o Brasil teve papel predominante. Foram construídas as primeiras ferrovias, expandiu-se a exportação de um novo produto, o café, e uma grande questão percorreu a sociedade: a escravidão. A partir de um determinado momento, ficou muito claro que a escravidão ia acabar. O problema era saber como liquida a escravidão no Brasil. Após uma série de leis - do Ventre Livre, dos Sexagenários - chegou-se à Abolição, em 1988.




Atualização 05/09/2011
Continua...

domingo, 28 de agosto de 2011

História do Brasil - BORIS FAUSTO

Esta postagem na minha opinião, é uma das mais importantes para historiadores, estudantes, etc. pois se trata de um conjunto de perguntas e respostas que envolve um dos maiores historiadores de HISTÓRIA DO BRASIL, Boris Fausto, pra você que ainda não conseguiu ler o livro, essa é uma oportunidade de conhecer.  Estou começando em ordem cronológica primeiro com a Colônia, e a seguir: Império, República, Era Vargas, Brasil democrático, Regime militar, Redemocratização...

Colônia

Por que Portugal foi o país pioneiro na expansão?

     Por várias razões. Uma, de ordem interna, foi o fato de que muito cedo Portugal se transformou numa monarquia centralizada, e a Coroa portuguesa teve recursos suficientes para empreender uma grande aventura, em busca de novas terras. Além disso, os portugueses aprenderam com os genoveses as técnicas de navegação e começaram a desenvolver essa atividade. Outro fator é a posição geográfica de Portugal, numa espécie de ponta da Europa, facilitando para os portugueses a tarefa de se lançar pelo oceano Atlântico afora.

Que os portugueses pretendiam, ao sair de sua terra?

     Certamente, foram em primeiro lugar buscar benefícios materiais. As grandes atrações naquele momento eram o ouro e as especiarias. Além de dar sabor, as especiarias também mascaravam o gosto ruim dos alimentos, que naquela época apodreciam facilmente. Então, eles queriam pimenta, cravo-da-índia... Ao mesmo tempo, havia um espírito de aventura, o desejo de conhecer novos mundos, novas terras, a expectativa de encontrar coisas que as pessoas nem imaginavam. Tecnicamente, as expedições portuguesas pelo mar eram muito avançadas para a época, inclusive com o navio leve e extremamente eficiente que haviam inventado que era a caravela. Foi com a caravela, numa grande expedição, que Pedro Álvares Cabral acabou avistando a terra brasílica nas costas da Bahia.

E como foi a chegada ao Brasil?

     O contato da expedição de Cabral com os indígenas é algo que a gente não pode reproduzir, esta é uma limitação do historiador, de qualquer um de nós. Mas, embora seja impossível reconstituir tudo isso, existe os relatos que ajudam. A carta de Pero Vaz de Caminha, por exemplo, é um documento fundamental. Ele era um escrivão da armada de Cabral, precisava relatar os fatos, e foi isso que fez, narrando com riqueza de detalhes os primeiros contatos com os índios, a impressão causada pela natureza, a primeira missa etc.

A descoberta do Brasil teria sido um acaso?

     Houve e ainda há muita discussão a respeito do “achamento” do Brasil. Os grupos se dividem entre a tese da chamada intencionalidade e a tese do acaso. Mas essa questão não é tão importante. O fato talvez mais relevante é que, quando os portugueses chegaram ao que viria a ser o Brasil, não tinham idéia da extensão das terras que encontraram. E não lhe deram muita importância, do ponto de vista econômico.

O que foi o Tratado de Tordesilhas?

     Foi uma linha imaginária com que Portugal e Espanha dividiram o mundo a oeste da península Ibérica, onde os dois países estavam situados. A respeito desse assunto, existe uma discussão sobre a possibilidade de os portugueses conhecerem terras que ainda não ocupavam. Porque na realidade o Tratado de Tordesilhas beneficiou mais Portugal do que a Espanha.

Como foram os primeiro contatos entre os portugueses e os índios?

     Hoje, evita-se falar em descobrimento do Brasil, há quem até encontre uma saída usando essa palavra esquisita, “achamento”. Mas o Brasil não foi nem descoberto nem achado, não era uma terra vazia à qual os portugueses chegaram. Na realidade era uma terra ocupada pelos índios. Os portugueses tomaram posse dessa terra e daí começou uma história de contatos e de muita violência.

Como viviam esses índios?

     Estavam divididos em muitas tribos. Hoje é comum falar em tupi-guaranis como se fosse uma coisa só, mas mesmo os tupis e os guaranis eram diferentes. Havia outras tribos muito guerreiras, como a dos aimorés, e por ai vai. Não havia uma grande nação indígena na costa do que viria a ser o Brasil, e sim uma série de tribos que ora conviviam, ora entravam em luta.

Qual o papel da Igreja Católica no Brasil colonial?

     O Estado português teve com relação à Igreja uma posição de certa dominância. Era o sistema chamado d padroado. O padroado era uma espécie de  de entendimento não-escrito entre Coroa portuguesa e a Igreja, pelo qual a Igreja tinha poderes espirituais, mas ao mesmo tempo a Coroa tinha um controle na nomeação de eclesiásticos e era também responsável pelo pagamento do clero, dos padres que vinham para o Brasil – não das ordens religiosas, mas do chamado clero  secular. A Igreja dedicava-se à conversão dos índios ao catolicismo. Para isso, era preciso organizar as aldeias, ensinar a religião católica e não destruir a população indígena. Mas houve muitos choques entre a Igreja e os colonos no Brasil, porque os colonos tinham outro interesse: o de explorar o trabalho indígena

E as capitanias hereditárias?

     Nos primeiro tempos, os portugueses estavam mais interessados no comércio com a Índia e pensaram no Brasil como uma espécie de ponto de parada nessa rota. Mas à medida que outros povos começaram a chegar, tentando ocupar a terra, eles se viram obrigados, por razões mais políticas do que econômicas, a encontrar uma forma de colonização. A primeira forma de colonização foram as chamadas capitanias hereditárias. Os donatários de capitanias tinham poderes no papel, e precisavam enfrentar uma série de problemas. As capitanias fracassaram, e daí a Coroa portuguesa teve a idéia de instituir um governo geral no Brasil.

O que foi esse governo geral?

     O governo geral correspondeu à necessidade de se ter um poder que centralizaria a administração da Colônia. Mas isso ficou na intenção. O governador geral tinha um raio de ação pequeno, na Bahia, no Nordeste. Nas outras regiões do país ele mandava muito pouco, até o século XVIII.

Qual a extensão da efetiva ocupação da Colônia?

     Esse Brasil dos primeiro tempos pode ser definido pelo que diz um cronista importante, Frei Vicente do Salvador; segundo ele, os portugueses a princípio se arrastavam pela praia como caranguejos. O que quer dizer isso? Que eles conseguiam ficar apenas na praia, e concentrados no litoral do Nordeste. A ocupação do interior foi um processo lento, que só se completou ao longo dos séculos.

Por que os portugueses recorreram à escravidão?

     Os portugueses tinham uma experiência de mão-de-obra escrava na costa da África e haviam levado muitos negros para Portugal, para realizar serviços domésticos. No início, pensaram em escravizar os índios, que, curiosamente, chamavam de “negros da terra”. A experiência de escravização da mão-de-obra indígena levou bastante tempo, mas em grandes linhas fracassou, por várias razões. Uma delas é que os índios estavam em seu próprio território, eles conheciam bem as saídas para evitar o apresamento. Uma segunda razão se encontra na resistência dos índios ao gênero de trabalho que os portugueses queriam lhes impor, porque sua experiência prévia não era de trabalho regular, pesado; viviam pescando, coletando frutos, fazendo roça, de uma maneira muito mais livre. Pela própria natureza da sua experiência, os índios tendiam a resistir tenazmente à escravidão. Além disso, uma verdadeira catástrofe demográfica: não estavam preparados para o contato com o homem branco, para resistir a vírus e bactéria que produzem doenças às vezes corriqueiras para os europeus. Houve uma grande mortandade causada por doenças como a gripe, por exemplo. Por tudo isso, os portugueses perceberam que a escravização indígena não dava certo e começaram a trazer negros africanos como escravos. A escravidão dos índios praticamente desapareceu substituída pela africana – mas isso não quer dizer que a situação indígena deixasse de ser muito precária.

Quando os portugueses se preocuparam com a questão da mão-de-obra?

     Quando perceberam que era viável explorar a Colônia do ponto de vista econômico se concentraram principalmente na produção de açúcar, plantando cana. Tinham uma longa experiência nas ilhas da costa africana, e conheciam muito bem o negócio do açúcar. Só que para tocar uma grande fazenda de plantação de cana necessitavam de braços, e não havia condições de atrair trabalhadores livres. Foi aí que começaram a tentar utilizar os índios, sem êxito, e depois a explorar o tráfico africano. Mas o escravo não era importante apenas como mão-de-obra. O negócio de traficar escravos era em si extremamente valioso; em certos períodos da história brasileira, muitas riquezas foram geradas pelo comércio de escravos, e não pela produção baseada nesse tipo de trabalho.


Era comum a resistência dos negros à escravidão?

     Dada a extensão do país e a diversidade dos grupos, nunca houve, no Brasil, algo comparável a uma grande insurreição de escravos – como aconteceu no Haiti, no século XVIII. Mas houve resistência. A forma mais conhecida é o quilombo, uma organização de negros fugidos e de gente marginalizada, criando uma vida alternativa à exploração colonial. Havia outras maneiras menos ostensivas de resistir, no dia-a-dia, como o não-cumprimento de ordens, a lentidão no ritmo de trabalho etc. Vários estudos têm mostrado que os escravos da casa-grande encontravam formas de adaptação e de resistência aos senhores.

O que faziam, no Nordeste os que não viviam em torno do engenho de açúcar?

     Havia os tropeiros no âmbito do comércio, a criação de gado no interior e várias outras atividades ligadas ao mercado interno.

Os portugueses conseguiam manter sua hegemonia na Colônia?

     Houve uma série de expedições de outros países com o propósito de conquistar a Colônia. Os franceses, por exemplo, estiveram no Rio de Janeiro e depois no Maranhão. Mas a presença mais importante foi sem dúvida a dos holandeses. Eles ocuparam Salvador e foram obrigados a se retirar; mas em uma segunda incursão, desta vez em Pernambuco, permaneceram muito mais tempo.

Por que os holandeses vieram ao Brasil?

     Isso tem muito a ver com a união das Coroas espanhola e portuguesa, sob o comando da primeira, a partir de 1580. Como havia uma disputa entre a Espanha e a Holanda, a partir da união Portugal também se tornou inimigo dos holandeses. Os holandeses tinham dois objetivos básicos: conquista de parte do território brasileiro e controle do comércio de escravos. Assim, ao mesmo tempo em que ocuparam Pernambuco avançaram em direção à costa ocidental da África. A civilização holandesa no Brasil foi muito significativa e deixou vestígios permanentes, principalmente como resultado do governo de Maurício de Nassau. Acabaram sendo militarmente derrotados e foram expulsos da Colônia.


Qual a reação dos colonos a presença holandesa?

     Os holandeses foram combatidos pelos colonos que ali estavam, e há até quem diga, com algum exagero, que dessa luta se originou o sentimento de brasilidade. Uma minoria de colonos endividados com os portugueses buscou se juntar aos holandeses, esperando obter o perdão de suas dívidas. Mas de modo geral foi gente da terra que primeiro resistiu aos holandeses; só depois Portugal veio em socorro da Colônia.

Além do Nordeste, qual outra região sobressaía no Brasil da época?

     Um dos fatos interessantes no povoamento do Brasil durante o período colonial é que a região Centro-Sul era isolada, pouco importante, na qual viviam muitos índios, uma população rústica. Aí se falava a chamada língua geral do Brasil, que era uma espécie de tupi adaptado à fala portuguesa. Quando a gente pensa no Brasil de hoje, é difícil imaginar que o Nordeste era a área mais avançada, e o Centro-Sul a mais atrasada.

E quanto à formação étnica do povo brasileiro?

     Cabe muita coisa na expressão “povo brasileiro”, mas de qualquer maneira PE nítido o cruzamento de raças – branco, índio, negro. Por que isso? O português, quando veio para essa terra imensa, não tinha à sua disposição mulheres brancas co quem pudesse casar, ou simplesmente se amasiar. Então dói muito freqüente o cruzamento de etnias, que deu origem ao povo mestiço que caracterizou o Brasil, até a imigração em massa, no final do século XIV.


Quais partes do Brasil os portugueses conheciam no século XVII?

     O Brasil do século XVII ainda era uma colônia pouco explorada. Mas os portugueses já não se arrastavam pela costa como caranguejos, eles avançavam terra adentro. Nesse avanço, os bandeirantes desempenharam um papel importante, combinando a ocupação da terra com a violência no apresamento dos indígenas. Em meados do século XVIII, os portugueses realizaram um sonho que perseguiam desde sua chegada ao Brasil: a descoberta de riquezas minerais. Isso se deveu às expedições dos bandeirantes.


Cidade de Ouro Preto e a riqueza trazida
com a descoberta de jazidas de ouro
Qual o resultado da descoberta de jazidas?

     O ouro transformou as relações da Coroa portuguesa com outros países da Europa e mudou a paisagem social da Colônia. Do ponto de vista social, a civilização do ouro está ligada à vinda de portugueses em maior escala, em uma verdadeira corrida em busca desse metal. Com isso, surgiram muitas cidades, envolvendo tanto gente rica quanto gente pobre. A civilização barroca, as igrejas, as artes, a obra de Aleijadinho, tudo isso foi produzido essencialmente pela civilização do ouro. Embora as riquezas fossem geradas na Colônia, o ouro era enviado em grande escala para a Metrópole, beneficiando também a Inglaterra, de quem Portugal era dependente. Ao longo do tempo, o ouro foi ficando escasso e as exigências da Coroa cresceram, sob a forma de impostos cada vez mais pesados. Essa circunstância gerou uma série de atritos, e teve algo a ver com o surgimento da Inconfidência Mineira.

O que gerou a Inconfidência Mineira?

     Nos últimos vinte anos do século XVIII surgiram no Brasil alguns movimentos de rebeldia contra a Coroa, dos quais o mais conhecido foi a Inconfidência Mineira. Essa tentativa de revolta, que na realidade nunca chegou a explodir em Minas, foi uma situação em que a elite local, que estava ganhando influência, se sentiu cada vez mais posta de lado pela administração portuguesa. Além disso, as dívidas contraídas com Portugal geravam um clima de insatisfação na região de Minas Gerais, num período já de decadência do ouro e também dos diamantes.

Houve outros movimentos de revolta?

     Além da Inconfidência Mineira, ocorreu uma série de revoltas contra Portugal a partir de fins do século XVIII. Por exemplo, a Conjuração dos Alfaiates, na Bahia, que em termos de composição social era mais popular do que a Inconfidência. Mas os episódios de Minas foram os mais importantes. Basta ver a atitude da Coroa, que montou um grande processo contra os inconfidentes, culminado com a encenação na qual Tiradentes foi enforcado, no Rio de Janeiro.

Como era o Brasil no final do século XVIII?

     Haviam ocorrido muitas transformações. A economia era diversificada, com açúcar, ouro, gado etc. Por outro lado, existiam áreas de disputa territorial. Por exemplo, as fronteiras no sul viviam em contínua disputa com os espanhóis. Enfim, não era ainda o Brasil de hoje, embora já se aproximasse deste, do ponto de vista geográfico.

Quando o sistema colonial entrou em crise?

     No começo do século XIX, por um conjunto de razões. Teoricamente, todas as transações comerciais da Colônia com o mundo só poderiam ser feitas por intermédio da Metrópole. Na prática, isso furou. Portugal entrou em decadência e teve de aceitar a presença de outras potências, particularmente a Inglaterra, no comércio brasileiro. O sistema colonial trazia embutido o tráfico de escravos. Quando a Inglaterra entrou em um surto industrial e buscou criar um mercado de mão-de-obra livre, o tráfico de escravos começou a ser quebrado pelos ingleses. Ao mesmo tempo, a Inglaterra tratava de liberar o comércio internacional para poder extrair deles plenas vantagens, sem depender de intermediários. Essas transformações vieram acompanhadas de um movimento de idéias liberais, tendo como objetivo alcançar a autonomia, e mesmo a independência das antigas colônias.

O que mudou com a chegada da família real?

     A vinda da família real para o Rio de Janeiro, no começo do século XIX, foi um fato político da maior importância para a Independência do Brasil. No jogo das potências da Europa, Portugal estava acossado pelos franceses, por Napoleão, que invadira seu território. Ao vir para a Colônia, Dom João VI e sua corte passaram por Salvador e se instalaram no Rio de Janeiro, que naquela altura já era a capital. Há quem diga, numa frase muito feliz, que de certo modo a Metrópole virou colônia e a Colônia virou metrópole. Com a presença da corte, o Rio de Janeiro se transformou, em muitos níveis – arquitetura, pintura, habitação, novos costumes etc. No plano das relações internacionais, um dos fatos mais importantes relacionados com a presença de Dom João VI foi o reconhecimento, com todas as letras, da liberalização do comércio internacional. Quer dizer, o Brasil teve seus portos abertos às nações amigas – e a gente deve pôr isso entre aspas, porque nesse caso falar em “nações amigas” se referia basicamente à Inglaterra. A partir daí a Inglaterra pôde ter legalmente acesso aos portos brasileiros.


E com a volta de Dom João VI para Portugal?

     A forma pela qual foi decidida a volta de Dom João IV para Portugal influiu no processo de Independência do Brasil. A permanência de seu filho, o futuro Dom Pedro I, representou um passo para a transição de colônia a país sem grandes abalos, conservando-se a forma monárquica.

Como ocorreu a Independência?

     No processo da Independência existiam duas linhas. Uma mais revolucionária, de transformação, que aparece nitidamente na Revolução de 1817, em Pernambuco, com a presença de Frei Caneca e outras figuras. Outra linha, a conservadora, queria fazer uma transição “transada”, sem muitos abalos. Esta linha, das elites fluminenses e da corte no Rio de Janeiro, foi a que triunfou.

Que idéias eram defendidas para um novo Brasil?

     Logo depois da Independência, formaram-se “partidos”, entre aspas, pois não eram organizações como as que conhecemos hoje. Basicamente, eram correntes de opinião das elites situadas nos grandes centros, em particular no Rio de Janeiro. Um setor conservador queria manter a forma monárquica e, além disso, concentrar o máximo de poderes nas mãos do primeiro imperador, Dom Pedro I. Era a tendência absolutista, que queria dar poderes absoluto ao rei. Contra essa corrente estavam os monarquistas liberais. Eles queriam reduzir o poder do imperador e dar força à Assembléia Geral Imperial – que hoje poderíamos chamar de Congresso -, convertendo-a em um órgão que controlasse aquele poder. Essa gente queria, ao mesmo tempo, garantir as liberdades públicas, as liberdades de expressão e de manifestação de pensamento.


Aqui acaba o capítulo que fala da Colônia, vamos entrar agora em Império. Aguarde...




segunda-feira, 18 de julho de 2011

O objetivo das Cruzadas

      A expansão do islamismo pelas armas fez com que os árabes ampliassem seu domínio
comercial sobre o Mediterrâneo, onde, segundo afirmava um historiador muçulmano, 'os
cristãos não conseguem fazer flutuar sequer uma tábua'. Essa observação dá a exata medida
da força muçulmana naquela região até o início das Cruzadas. Os árabes conquistaram todo
o Império Persa, o Mediterrâneo, o Norte da África e a Península Ibérica.
O Império Bizantino era o outro objetivo dos movimentos cruzadistas. A origem de
Bizâncio remonta a fins do século IV, quando ocorreu a divisão do Império Romano: o
Oriental, com capital em Constantinopla (antiga Bizâncio), e o Ocidental, que logo chegaria
ao fim. Bizâncio se transformou no centro de um poderoso Estado; suas origens romanas
foram gradativamente abandonadas, vindo a predominar cultura grega e asiática.
Economicamente, o Império se baseava nas atividades urbanas, como comércio e
manufaturas. Constantinopla era a intermediária dos produtos comerciais entre o Oriente e
o Ocidente. Através de embarcações bizantinas, produtos como especiarias (cravo e
canela), perfumes, açúcar, madeiras, pedras preciosas e ouro, vindos da Ásia pelo Mar
Negro, chegavam ao Mediterrâneo e eram redistribuídos para a Europa Ocidental pelas
cidades italianas, especialmente Veneza.

Tanto o Papa quanto o Patriarca (chefe da Igreja bizantina) desejavam controlar a
arrecadação financeira do comércio nas regiões italianas. Essa disputa, entre outros fatores,
levou à ruptura, em 1054, entre Roma (capital do cristianismo ocidental) e Constantinopla
(capital do cristianismo oriental), que recebeu o nome de Cisma (separação) do Oriente,
dando origem a duas igrejas: a Católica Apostólica Ortodoxa e a Católica Apostólica
Romana.
Conseqüências das Cruzadas
O movimento das Cruzadas, a intensificação da atividade mercantil e o renascimento das
cidades tiveram as seguintes conseqüências:
a) a abertura do Mediterrâneo ao controle europeu, o que beneficiou principalmente as
cidades italianas (Veneza, Gênova e Florença), que passaram a exercer o domínio
comercial na Europa, com a eliminação de Constantinopla como intermediária das
mercadorias do Oriente;
b) o abastecimento de madeira, peles, couros, especiarias, açúcar, ouro, prata, perfumes,
marfim - vindos do Oriente Médio e da Ásia, principalmente de uma região conhecida
como Índia - passou a ser freqüente na Europa, impulsionando definitivamente o seu
desenvolvimento comercial;

c) o contato com outros povos introduziu no continente europeu novas técnicas de
navegação, além dos algarismos arábicos (1, 2, 3, ...), que passaram a ser utilizados em
larga escala, facilitando os cálculos;
d) o crescimento de vilas e cidades que se tornavam centros de comércio, atraindo servos
do campo para a cidade;
e) o desenvolvimento de uma nova classe social, que não era de proprietários de terras nem
de trabalhadores servis, mas dedicava-se ao artesanato e ao comércio: a burguesia (os
habitantes dos burgos).
Crise: terra ou dinheiro?
Se o século XIII representou para a Europa um lento mas seguro desenvolvimento
mercantil, o século XIV foi um período de crises sucessivas. Os servos, atraídos pelas
atividades mercantis, transferiram-se gradativamente para as cidades, gerando falta de mãode-
obra nos campos. A agricultura estagnara devido às limitações das técnicas de produção.
Mais do que isso, o uso contínuo e excessivo das terras provocava a diminuição da
produtividade agrária. Os resultados não podiam ser outros: fome, desemprego, revoltas,
epidemias.
Devido a todas essas dificuldades, o século XII marcou o início da desarticulação da
forma de organização feudal. A sociedade passou por uma crise geral, de repercussões
irreversíveis, cujas causas podemos assim resumir:
a) desequilíbrio entre produção agrária e consumo de mercadorias, gerado pela
incapacidade de aumentar a produção;
b) aumento da fome, ocasionando crescimento da mortalidade;
c) diminuição populacional agravada pelas pestes e epidemias (na metade do século XIV,
uma epidemia de peste bubônica, conhecida como a "peste negra", dizimou um terço da
população européia);
d) em conseqüência, diminuição do mercado consumidor e da mão-de-obra;

e) freqüência de guerras entre as regiões européias, como a dos Cem Anos (1337-1453),
entre França e Inglaterra, e revoltas camponesas (servos), como a de 1381, na Inglaterra,
gerando a desorganização da produção e do comércio, o declínio populacional e o
crescimento dos impostos para atender aos gastos militares.
Como conseqüências dessa crise geral do feudalismo, temos:
a) o enfraquecimento dos senhores que formavam as classes nobres, provocado por
disputas econômicas;
b) o crescimento da burguesia e o fortalecimento de uma organização política
centralizadora para melhor explorar o comércio;
c) a associação de interesses mercantis com a centralização do poder provocando o apoio
da burguesia aos reis (nobres mais ricos e vencedores das guerras entre senhores);
d) a nobreza enfraquecida pelas sucessivas lutas lentamente obrigada a aceitar sua
integração ao Estado Nacional criado pelo apoio da burguesia mercantil aos reis.
Do século XI ao XIII, a riqueza de um nobre media-se pela quantidade de terras e servos
em suas propriedades. Já no século XIV, a quantidade de terras ainda era importante, mas
havia necessidade de dinheiro, que poderia ser obtido através de transações comerciais ou
da arrecadação de impostos. Para aumentar sua riqueza, alguns senhores começaram a se
associar com os burgueses que dominavam o comércio da região, desenvolvendo-se assim
um território demarcado pelas atividades comerciais e produção agrícola. Nobreza
enfraquecida, crescimento econômico da burguesia, desenvolvimento do reino e
centralização do poder nas mãos dos reis foram as bases para o surgimento do Estado
Nacional Moderno, dentre os quais o primeiro a se consolidar foi Portugal.
468 - A Península Ibérica
O nascimento de Portugal



A formação do Estado Nacional de Portugal está intimamente ligada à história da
formação da Espanha. Os pequenos reinos cristãos visigóticos formados na Península
Ibérica (Espanha e Portugal) foram alvo, durante séculos, das invasões muçulmanas. A
unificação desses reinos relaciona-se à reconquista dos territórios dominados pelos
muçulmanos.
No século VIII os árabes, no seu processo de expansão, controlaram a Península Ibérica,
que passou a fazer parte do grande Império Islâmico. Do século VIII ao século XV, o
modelo da economia árabe estimulou o comércio, intensificando a vida urbana, e
permitindo o desenvolvimento de uma ativa burguesia composta por judeus, árabes,
muladis (cristãos convertidos à religião islâmica) e moçárabes (cristãos que se dedicavam à
atividade mercantil, aceitando a dominação muçulmana).