segunda-feira, 18 de julho de 2011

O objetivo das Cruzadas

      A expansão do islamismo pelas armas fez com que os árabes ampliassem seu domínio
comercial sobre o Mediterrâneo, onde, segundo afirmava um historiador muçulmano, 'os
cristãos não conseguem fazer flutuar sequer uma tábua'. Essa observação dá a exata medida
da força muçulmana naquela região até o início das Cruzadas. Os árabes conquistaram todo
o Império Persa, o Mediterrâneo, o Norte da África e a Península Ibérica.
O Império Bizantino era o outro objetivo dos movimentos cruzadistas. A origem de
Bizâncio remonta a fins do século IV, quando ocorreu a divisão do Império Romano: o
Oriental, com capital em Constantinopla (antiga Bizâncio), e o Ocidental, que logo chegaria
ao fim. Bizâncio se transformou no centro de um poderoso Estado; suas origens romanas
foram gradativamente abandonadas, vindo a predominar cultura grega e asiática.
Economicamente, o Império se baseava nas atividades urbanas, como comércio e
manufaturas. Constantinopla era a intermediária dos produtos comerciais entre o Oriente e
o Ocidente. Através de embarcações bizantinas, produtos como especiarias (cravo e
canela), perfumes, açúcar, madeiras, pedras preciosas e ouro, vindos da Ásia pelo Mar
Negro, chegavam ao Mediterrâneo e eram redistribuídos para a Europa Ocidental pelas
cidades italianas, especialmente Veneza.

Tanto o Papa quanto o Patriarca (chefe da Igreja bizantina) desejavam controlar a
arrecadação financeira do comércio nas regiões italianas. Essa disputa, entre outros fatores,
levou à ruptura, em 1054, entre Roma (capital do cristianismo ocidental) e Constantinopla
(capital do cristianismo oriental), que recebeu o nome de Cisma (separação) do Oriente,
dando origem a duas igrejas: a Católica Apostólica Ortodoxa e a Católica Apostólica
Romana.
Conseqüências das Cruzadas
O movimento das Cruzadas, a intensificação da atividade mercantil e o renascimento das
cidades tiveram as seguintes conseqüências:
a) a abertura do Mediterrâneo ao controle europeu, o que beneficiou principalmente as
cidades italianas (Veneza, Gênova e Florença), que passaram a exercer o domínio
comercial na Europa, com a eliminação de Constantinopla como intermediária das
mercadorias do Oriente;
b) o abastecimento de madeira, peles, couros, especiarias, açúcar, ouro, prata, perfumes,
marfim - vindos do Oriente Médio e da Ásia, principalmente de uma região conhecida
como Índia - passou a ser freqüente na Europa, impulsionando definitivamente o seu
desenvolvimento comercial;

c) o contato com outros povos introduziu no continente europeu novas técnicas de
navegação, além dos algarismos arábicos (1, 2, 3, ...), que passaram a ser utilizados em
larga escala, facilitando os cálculos;
d) o crescimento de vilas e cidades que se tornavam centros de comércio, atraindo servos
do campo para a cidade;
e) o desenvolvimento de uma nova classe social, que não era de proprietários de terras nem
de trabalhadores servis, mas dedicava-se ao artesanato e ao comércio: a burguesia (os
habitantes dos burgos).
Crise: terra ou dinheiro?
Se o século XIII representou para a Europa um lento mas seguro desenvolvimento
mercantil, o século XIV foi um período de crises sucessivas. Os servos, atraídos pelas
atividades mercantis, transferiram-se gradativamente para as cidades, gerando falta de mãode-
obra nos campos. A agricultura estagnara devido às limitações das técnicas de produção.
Mais do que isso, o uso contínuo e excessivo das terras provocava a diminuição da
produtividade agrária. Os resultados não podiam ser outros: fome, desemprego, revoltas,
epidemias.
Devido a todas essas dificuldades, o século XII marcou o início da desarticulação da
forma de organização feudal. A sociedade passou por uma crise geral, de repercussões
irreversíveis, cujas causas podemos assim resumir:
a) desequilíbrio entre produção agrária e consumo de mercadorias, gerado pela
incapacidade de aumentar a produção;
b) aumento da fome, ocasionando crescimento da mortalidade;
c) diminuição populacional agravada pelas pestes e epidemias (na metade do século XIV,
uma epidemia de peste bubônica, conhecida como a "peste negra", dizimou um terço da
população européia);
d) em conseqüência, diminuição do mercado consumidor e da mão-de-obra;

e) freqüência de guerras entre as regiões européias, como a dos Cem Anos (1337-1453),
entre França e Inglaterra, e revoltas camponesas (servos), como a de 1381, na Inglaterra,
gerando a desorganização da produção e do comércio, o declínio populacional e o
crescimento dos impostos para atender aos gastos militares.
Como conseqüências dessa crise geral do feudalismo, temos:
a) o enfraquecimento dos senhores que formavam as classes nobres, provocado por
disputas econômicas;
b) o crescimento da burguesia e o fortalecimento de uma organização política
centralizadora para melhor explorar o comércio;
c) a associação de interesses mercantis com a centralização do poder provocando o apoio
da burguesia aos reis (nobres mais ricos e vencedores das guerras entre senhores);
d) a nobreza enfraquecida pelas sucessivas lutas lentamente obrigada a aceitar sua
integração ao Estado Nacional criado pelo apoio da burguesia mercantil aos reis.
Do século XI ao XIII, a riqueza de um nobre media-se pela quantidade de terras e servos
em suas propriedades. Já no século XIV, a quantidade de terras ainda era importante, mas
havia necessidade de dinheiro, que poderia ser obtido através de transações comerciais ou
da arrecadação de impostos. Para aumentar sua riqueza, alguns senhores começaram a se
associar com os burgueses que dominavam o comércio da região, desenvolvendo-se assim
um território demarcado pelas atividades comerciais e produção agrícola. Nobreza
enfraquecida, crescimento econômico da burguesia, desenvolvimento do reino e
centralização do poder nas mãos dos reis foram as bases para o surgimento do Estado
Nacional Moderno, dentre os quais o primeiro a se consolidar foi Portugal.
468 - A Península Ibérica
O nascimento de Portugal



A formação do Estado Nacional de Portugal está intimamente ligada à história da
formação da Espanha. Os pequenos reinos cristãos visigóticos formados na Península
Ibérica (Espanha e Portugal) foram alvo, durante séculos, das invasões muçulmanas. A
unificação desses reinos relaciona-se à reconquista dos territórios dominados pelos
muçulmanos.
No século VIII os árabes, no seu processo de expansão, controlaram a Península Ibérica,
que passou a fazer parte do grande Império Islâmico. Do século VIII ao século XV, o
modelo da economia árabe estimulou o comércio, intensificando a vida urbana, e
permitindo o desenvolvimento de uma ativa burguesia composta por judeus, árabes,
muladis (cristãos convertidos à religião islâmica) e moçárabes (cristãos que se dedicavam à
atividade mercantil, aceitando a dominação muçulmana).

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Feudalismo parte 2

Feudalismo 

O Feudo
Feudalismo - apogeu e queda Divisão do período feudal e suas características
Era crença comum na Idade Média que o mundo acabaria no ano 1000. Sabemos que isso
não ocorreu. Na verdade, essa época assinalou o ressurgimento do comércio e o início das
transformações gerais pelas quais a Europa passou ao longo do período que se iniciou no
século XII e se estendeu até o século XVI (época do descobrimento do Brasil).
Para compreendermos mais adequadamente a Idade Média, lembremos que ela é dividida
em Alta Idade Média e Baixa Idade Média. A Alta Idade Média - séculos V ao X -
caracterizou-se pela formação da sociedade medieval, que marcou a transição do
escravismo ao feudalismo. A Baixa Idade Média – séculos X ao XV - caracterizou-se pela
consolidação do feudalismo. O sistema feudal conheceu seu apogeu entre os séculos XII e
XIII, quando teve início uma crise geral e profundamente transformadora que conduziria ao
seu declínio, nos séculos XIV e XV.


Feudo era o local de produção dos bens necessários à sobrevivência da população.
Era constituído por castelos e vilas - as unidades de produção essencialmente agrícolas. A
economia feudal baseava-se na agricultura de subsistência, isto é, todos os bens produzidos
destinavam-se à manutenção dos habitantes dos feudos (senhores dos castelos e servos
produtores agrários). Naturalmente, numa economia desse tipo, voltada para a terra, o poder
econômico estava nas mãos dos grandes senhores feudais.
A propriedade da terra constituía a base do poder dos senhores feudais, que além disso
detinham o poder militar, judicial e político, e se reservavam o direito exclusivo de cunhar
moedas.
O grande proprietário de terras, chamado suserano, doava feudos a outro senhor de terras,
que se tornava vassalo.
A vassalagem consistia num contrato de deveres e obrigações mútuas entre o suserano e o
vassalo. Por esse contrato, o vassalo ligava-se ao suserano mediante os seguintes
compromissos:
a) auxílio militar obrigatório por um período aproximado de quarenta dias e durante as
guerras;
b) auxílio financeiro ao suserano, quando este participasse de cruzadas, e ao seu
primogênito, a fim de armá-lo para as guerras.


Em troca, o suserano se comprometia a proteger os vassalos e seus dependentes e a não
tirá-los das terras. Se o vassalo deixasse de cumprir as obrigações de vassalagem, poderia
ser expulso da terra. Além disso, quando o vassalo morria, seu primogênito tornava-se
também um vassalo, pagando ao suserano uma taxa de transmissão do poder sobre a terra.
Outra característica do feudalismo era o militarismo. O vassalo, depois de sagrado
cavaleiro, defendia os domínios do seu senhor. A educação de um jovem vassalo consistia
no fortalecimento físico, na habilidade do manejo das armas, na prática de cavalgar e caçar
e no treinamento para os torneios. Essa preparação militar era a condição fundamental para
se tornar um cavaleiro. As guerras constantes constituíam os meios concretos de se
aumentar as riquezas, pela conquista de novos territórios. A sociedade feudal dividia-se em
senhores e servos. Os primeiros administravam seus bens - castelos, armas, terras, cavalos -
, adquiridos pelas guerras, pelos saques, pelas revoltas. Os segundos cuidavam da
produção, lutavam nas guerras e protegiam os castelos senhoriais.
Mentalidade feudal: senhor de terras, Senhor Deus


Na Idade Média, o pensamento cristão, baseado na crença em um só Deus, senhor de todo
o universo, orientava a vida humana. No entanto, para melhor conhecer os desejos de Deus,
era necessário a mediação da Igreja Católica como intérprete "única e verdadeira" das
vontades divinas, pois "só a Igreja salvaria".
A Igreja, considerada como a representante dos ensinamentos de Cristo – com poderes de
expulsar demônios, curar doenças, e encarregada de espalhar a doutrina da salvação -,
dirigia o comportamento humano. Na visão da Igreja medieval, o excedente daquilo que se
produzia para a própria subsistência deveria ser "distribuído". E, embora condenasse a
usura e a especulação, durante o período feudal foi dona de cerca de dois terços das terras
européias.
A religiosidade norteava todas as atitudes dos homens daquela época. Assim, por
exemplo, quando o servo entregava sua produção a seu senhor, estava doando seu esforço
ao Senhor Deus; quando o senhor feudal doava terras ao Papa e à Igreja, também o fazia ao
Senhor Deus. E ambos seriam recompensados por isso. Essa ligação dos homens com o
poder divino, por intermédio da Igreja, caracterizou o teocentrismo. traço marcante do
feudalismo.
As lutas entre povos cristãos e povos bárbaros (predominantemente germânicos)
começaram no início da era cristã e só diminuíram por volta dos séculos IX e X (801 a
900). Durante esse período, iniciou-se uma interação econômica, política, social e cultural
entre os dois povos, com o predomínio do cristianismo sobre os cultos bárbaros. O
resultado dessa aproximação foi um aumento populacional que acabou por gerar a escassez
de alimentos. A produção agrícola insuficiente levou ao desenvolvimento de um pequeno
comércio de trocas entre os feudos. Mas isso não foi o bastante para suprir a população
européia. As lutas entre servos e senhores tornaram-se, assim, constantes. Os servos
reivindicavam aumento das terras para suas necessidades. Os senhores exigiam mais
produção.


Como resolver os problemas que causaram a falta de alimentos? Como evitar a crise
social, isto é, as revoltas servis provocadas pela precariedade da economia? Como impedir
o enfraquecimento político dos senhores feudais e da própria Igreja, que também tinha
servos nas suas terras?