Luís Felipe Miguel, in: O Nascimento da Política Moderna – Maquiavel, Utopia e Reforma Ed. UNB.
Com
eles se inicia a ruptura que será completada pela Reforma Protestante.
A
Reforma Protestante é datada de 1517, tendo como liderança o monge, professor e
Doutor em Teologia Martinho Lutero. Seu contexto inicial é o Sacro Império
Romano Germânico (a atual Alemanha).
Lutero
estabeleceu polêmica com o Papa Leão X, tendo como objetivo rever as práticas e
dogmas da Igreja. Daí a ideia de Reforma. A mudanças se dariam dentro da própria
Igreja. Como as ideias luteranas não tiveram forma de se estabelecer a REFORMA
OCORREU FORA DA IGREJA. Daí a ideia de CISMA.
Mas
por que Lutero obteve êxito onde outros não obtiveram.
Luís
Felipe Miguel, seguindo as ideias de L. Febvre indica que a motivação da
Reforma foi Religiosa, mas aponta que seus desdobramentos atingiram os campos
social, econômico e político.
Assim:
a)
para a enorme massa de camponeses, aderir à nova religião dava vazão às
críticas à venda de indulgências estabelecidas por Roma e também às críticas às
práticas corruptas. Assim Roma era entendida como um inimigo externo
inviabilizando a unidade nacional;
b)
para a burguesia a nova religião permitia fugir da condenação da usura (o
acúmulo), que a Igreja pregava. Por outro lado, a compra de indulgências não
era algo racional, porém necessário diante da força dos argumentos para a
salvação do pecado;
c)
para os príncipes, inclusive, Lutero foi protegido por eles, uma nova
religiosidade permitiria romper com o lema (cujus régio ejus religios – que se
lê cuyus regiã eyus religiã: a religião do rei é a religião do povo). Seria uma
forma de afrontar o Poder do Imperador do Sacro Império (primeiro Maximiliano I
e depois Carlos V) garantindo a autonomia em seus territórios.
Assim,
estes três elementos explicam a força das ideias de Lutero e sua
instrumentalização em outros países, explicam as divisões religiosas. Na
Inglaterra, por exemplo, Henrique VIII dividiu a nação entre católicos e
anglicanos (religião similar, do ângulo dos rituais ao catolicismo, mas tendo o
rei como seu papa: caput (cabeça)). Pode retirar terras da Igreja e tributos.
a) As 95 teses e as ideias de Lutero e
Calvino
As
95 teses de Lutero afixadas na Catedral de Wittemberg em 31 de outubro de 1517,
revelavam uma crítica ácida ao clero e, principalmente, à venda de
indulgências.
Mas,
as ideias de Lutero não se encerravam aí. O autor propunha uma revisão também
dos dogmas que poder ser entendida:
a)
simplificação dos sacramentos: somente 3: Batismo, Eucaristia e Confissão sem
Penitência.
Na Eucaristia, Lutero substituía a crença na transubstanciação (o
pão e o vinho se transformam em corpo e sangue de Cristo) pela ideia de consubstanciação:
o corpo e o sangue de Cristo estão presentes, mas não no pão e no vinho;
Na
confissão não requereria a penitência porque o perdão dos pecados só pode ser
alcançado a partir da contrição (verdadeiro arrependimento);
b)
a leitura das escrituras sagradas é o caminho para a salvação. Lutero traduziu,
para o alemão, o Novo Testamento em 1522 e, o Antigo, em 1534. Era necessário
que o Homem lesse para entrar em contato com os ensinamentos de deus, visto que
se negava a hierarquia eclesial e a interpretação ganhava papel importante (o
livre arbítrio);
c)
a Salvação vem pela Fé. Mas, o livre arbítrio estava limitado.
Em polêmica com Erasmo de Roterdã, que
acreditava que o Homem poderia escolher (livre-arbítrio) entre a obra de deus e
a Danação (domínio do Diabo) para obter sua salvação, Lutero limita o livre
arbítrio, dizendo que se o Homem pudesse se salvar sozinho deus perderia seu
papel. Assim, não importa as obras para a salvação. Elas são o sinal de que o
Homem é justo, mas sua justiça e sua fé são movidas por Deus. Só a Fé salva.
Neste
aspecto, outro teólogo deste período, João Calvino, francês, mas que governará
em Genebra apresenta ideia diferente. “nem as obras, nem a Fé salvam”. O Homem
já vem predestinado por Deus á salvação. Como reconhecê-la. O sinal da salvação
estaria atrelado a uma vida de cuidados pessoais e de trabalho para a
“construção da cidade de deus”, que é próspera. Neste sentido, a burguesia
principalmente associou a prosperidade com a salvação. Mas Calvino, segundo o
teólogo Antonio Máspoli, não faz referência ao lucro ou dinheiro, estabeleceu
sim, uma ética do trabalho e não da prosperidade. Relata-se, inclusive, que
quando estava próximo de sua morte (acometido por doenças) não deixou de
trabalhar, pois dizia que deus não poderia encontrá-lo no ócio.
Filósofos
como Max Weber associaram a força das ideias calvinistas com o desenvolvimento
do capitalismo, na medida em que a prosperidade alcançada com o trabalho se
aliou a uma vida sóbria (sem luxo), o que permitiu o desenvolvimento de
poupança e condições para o acúmulo de capitais.
Outra
ideia importante deste autor diz respeito à questão do poder> Acreditavam
que havia um PODER RELIGIOSO (o maior, vindo de deus) e um PODER TEMPORAL (dos
governantes).
Afinal,
como pensava Lutero a natureza dos homens maus só se verga a governantes de
grande autoridade. E os bons cristãos? Estes deveriam, mesmo sendo bom,
respeitarem o poder dos governantes (mesmo que estes fossem maus), pois caberia
ao bom cristão da o exemplo de boa conduta. Por outro lado, nunca se sabia se o
mau governante não era fruto da vontade de deus para testar o bom cristão.
POR
APRESENTAR ESTE CARÁTER CONSERVADOR EM RELAÇÃO AO PODER DOS GOVERNANTES, LUTERO
E CALVINO FICARAM CONHECIDOS COMO REALIZADORES DA REFORMA MAGISTRAL (do
Mestre, Perfeita).
Lutero, inclusive, escreveu
permitindo e incentivando o massacre de cerca de 100 mil camponeses liderados
por Thomas Münzer, que se revoltou contra seus proprietários exigindo terras
para produzir. Para Münzer era preciso melhores condições de trabalho para que
os homens pudesses se dedicar à sua salvação. No entanto, Lutero condenou a
ação, pois ela se distanciava da verdadeira reforma.
Estes
camponeses são identificados com o Movimento Anabatista.
b) Anabatistas e Reforma Radical
Os Anabatistas, segundo Luís Felipe Miguel,
formaram na Europa um movimento heterogêneo, mas existem alguns características
que os assemelha.
1ª – negação do batismo na fase infantil e
sua afirmação na fase adulta: O próprio nome anabatismo representava a ideia de
negação do batismo. Mas os anabatista acreditavam no Batismo na fase adulta,
pois postulavam que somente consciente uma pessoa pode escolher sua religião.
Como castigo eram mortos – além de queimados e enforcados – afogados
para ironizar o Batismo adulto;
2ª – prática da Caridade. Acreditavam que
todos podiam (em potência) se assemelhar a deus, auxiliando seus irmãos. Assim
a caridade e mesmo, cita-se, a utilização de forma coletiva da terra marcaram a
sua organização;
3ª – Negação da Autoridade Temporal – se os homens
são bons cristão, não devem se vergar a autoridade de outros homens,
principalmente, maus homens. Assim, deve-se obedecer somente a deus. Essa
negação da autoridade dos governantes e sua divulgação tornaram os
anabatistas inimigos do Estado e sua perseguição se deu em toda a Europa.
o barato ta loco
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